19º Congresso do Departamento de Pressão Arterial da SBC

Dados do Trabalho


Título

RELATO DE CASO RARO DE DISJUNÇÃO DO ANEL MITRAL

Introdução e/ou Fundamento

O prolapso da válvula mitral (PVM) é relativamente comum, com uma prevalência de cerca de 2% e tem um bom prognóstico no geral. No entanto, a PVM tem sido associada a arritmias ventriculares malignas e morte súbita cardíaca em um pequeno subconjunto de pacientes jovens e de meia-idade. O PVM de folheto duplo, fibrose do músculo papilar e disjunção do anel mitral (MAD) também foram associados ao aumento do risco arrítmico.
A MAD é caracterizada por uma separação sistólica entre o miocárdio ventricular e o anel mitral que sustenta o folheto mitral posterior, que resulta em um movimento anormal do anel valvar denominado curling. Estudos demonstram uma associação entre MAD, arritmia ventricular e fibrose do músculo papilar na qual está relacionada a um risco aumentado de arritmias. Será apresentado um caso de uma paciente assintomática com disjunção de anel mitral que não apresenta prolapso mitral e que evolui com uma taquicardia ventricular não sustentada no teste de esforço .

Métodos

As informações e dados deste trabalho foram obtidas através de revisão de prontuário e de literatura.

Resultados

Mulher, 46 anos, sem comorbidades prévias conhecidas buscou cardiologista ambulatorialmente para pré-operatório de colecistectomia. Solicitados exames para avaliação, onde observou-se Ecocardiograma transtorácico com função biventricular preservada, sem valvopatias ou outras alterações, eletrocardiograma dentro dos padrões de normalidade, porém em teste ergométrico paciente apresentou taquicardia ventricular polimórfica sustentada ao esforço, tendo seu exame interrompido e encaminhada para investigação hospitalar.
Na admissão foi dosado troponina, BNP, eletrólitos e função tireoideana, todas sem alterações. Paciente prosseguiu investigação com afastamento de etiologia isquemica após realização de angiotomografia de coronária que demostrou score de cálcio zero, lesão mínima em território de descendente anterior proximal. Holter totalmente em ritmo sinusal, frequência cardíaca mínima 51, média 64, máxima 92 e 1 episódio de TVNS.
Procedeu investigação com a Ressonância magnética cardíaca (RMC), a qual demostrou disjunção do anel mitral, com maior medida de 5,3 mm na via de saída de VE, associado ainda a realce tardio focal em músculo papilar póstero-medial .
Indicado CDI subcutâneo para prevenção primária.
A MAD inicialmente foi descrita num estudo em 1986 de autopsia que mostrou uma prevalência de 6% no coração humano. Um outro estudo de 2018 avaliaram a ocorrência de MAD com PVM e dos 116 paciente selecionados, observaram que 90 pacientes que tinham MAD , não tinham PVM e 26 tinham PVM com MAD. Uma outra analise realizada , mostrou que os pacientes que tinham a disjunção , mas não tinham o prolapso , eles apresentavam uma maior risco para taquicardia ventricular junto com a idade mais nova e a presença de fibrose A apresentação clínica mais frequente são as palpitações e pode apresentar síncope e arritmia ventricular e morte súbita
A paciente assintomática que apresenta os seguintes fatores de risco para arritmia ventricular : Jovem, presença de fibrose e a disjunção sem prolapso. A RMC é o ideal para estratificação de risco de EVs destes pacientes, devido à capcadidade de identificar de forma não invasiva a fibrose miocárdica focal usando o realce tardio com gadolínio. Geralmente, a fibrose está localizada no músculo papilar da parede inferior.
O tratamento medicamentoso da arritmia ventricular num estudo pequeno não se mostrou benefício. No entando, o tratamento com dispositivos como o uso de CDI que na prevenção secundária é indicado por diretrizes em pacientes com PVM e história documentada de parada cardíaca súbita com fibrilação ventricular (FV) ou taquicardia ventricular (TV) sem causas reversíveis. Agora, a implantação do CDI na prevenção primária é mais complexa de acordo com a opinião de especialista, a recomendação se torna mais forte para pacientes que apresentam com síncope inexplicável e EVs de alto risco detectados por ECG, Holter ou por teste de esforço. Uma outra opção que se mostra interessante é um estudo eletrofisiológico e tentar fazer ablação do foco da arritmia além de estratificar o risco para morte súbita e assim , colcoar o CDI.

Conclusões

A MAD é uma condição pouco conhecida, porém deve ser considerada como um diagnóstico diferencial nos casos de arritmias ventriculares em pacientes jovens .Seu diagnóstico é facilitado pela RM cardíaca que auxilia tanto para ver a disjunção como para avaliar outras anormalidades estruturais

Área

Cardiologia

Autores

Júlia Galvani Nobre Ferraz, Karolyne Moura Rique Dressler de Espíndola, Flávia Renno Troiani, Vinícius Santiago de Lima, Guilherme D Andrea Saba Arruda, André Feldman, Rafael Domiciano