19º Congresso do Departamento de Pressão Arterial da SBC

Dados do Trabalho


Título

REMISSÃO DE ÚLCERA DE MARTORELL A PARTIR DE INTERVENÇÃO MULTIDIMENSIONAL DE MEDICINA DO ESTILO DE VIDA EM PORTADOR DE HIPERTENSÃO REFRATÁRIA.

Introdução e/ou Fundamento



Em 1945 Martorell descreveu uma série de casos de úlceras supramaleolares dolorosas secundárias a arteriolosclerose subcutânea em hipertensos mal controlados. Estas úlceras hipertensivas (UH) acometem predominantemente a região laterodorsal do tornozelo, na ausência de doença arterial oclusiva periférica (DAOP), insuficiência venosa crônica ou outras vasculites. Afetam mais comumente mulheres entre 50 e 60 anos, são intensamente dolorosas e estão associadas a hipertensão arterial (HA) mal controlada.

Métodos


Relatamos o caso de um paciente de sexo masculino, 56 anos, negro, portador de obesidade grau 2 (peso 115 kg; IMC 37), acompanhado por HA primária refratária, que evoluiu com úlcera maleolar laterodorsal direita crônica e intensamente dolorosa. Apesar da prescrição de 7 classes de anti-hipertensivos (olmesartana, clortalidona, anlodipino, espironolactona, atenolol, hidralazina e clonidina), retornou com Monitorização Residencial da Pressão Arterial (MRPA) fora da meta (média: 146/88mmHg). Na ausência de diabetes, DAOP, insuficiência venosa e outras formas de vasculites, a úlcera foi caracterizada como hipertensiva. O paciente foi então submetido a intervenção comportamental multidimensional como parte de protocolo institucional de medicina do estilo de vida (MEV). O protocolo incluiu telemonitoramento da pressão arterial e da tomada da medicação, além da orientação alimentar e da promoção de atividade física e equilíbrio emocional assistidos via aplicativo gratuito.

Resultados

Após duas semanas, obteve-se controle da pressão arterial. Após 6 meses, o paciente apresentou perda de peso de 10 quilos e redução progressiva dos anti-hipertensivos (suspensas hidralazina e clonidina). Cursou com cicatrização completa da UH. Retornou às atividades físicas, manteve adesão ao tratamento e não apresentou recidiva da UH até o momento.

Conclusões

A UH de Martorell é uma condição infrequente e não universalmente reconhecida como entidade clínica independente, não sendo mencionada nos principais textos de referência em HA. No entanto, as características clínicas e histopatológicas dos casos reportados na literatura parecem justificar o diagnóstico, que mais frequentemente é definido por dermatologistas e cirurgiões vasculares. O controle da HA é considerado fundamental para a remissão da úlcera, mas enfrenta o desafio da adesão do paciente ao tratamento. Este é o primeiro relato na literatura a reportar remissão da UH mediante intervenções não farmacológicas fundamentadas na MEV. Independentemente da etiologia, a MEV tem o potencial de atingir a causa primária e de ser benéfica para praticamente todas as formas de úlceras de membros inferiores.
Intervenções de MEV deveriam integrar sistematicamente a abordagem terapêutica destes pacientes.

Área

Hipertensão

Autores

KALIANA MARIA NASCIMENTO, ANTÔNIO GABRIELE LAURINAVINICIUS, JONATHAN BATISTA SOUZA, Fernanda Consolim Colombro, Márcio Gonçalves Souza