Dados do Trabalho
Título
HIPERTENSÃO SISTÓLICA ISOLADA DO JOVEM: RELATO DE CASO
Introdução e/ou Fundamento
A Hipertensão Sistólica Isolada (HSI) é definida pela maioria dos estudos como pressão arterial sistólica maior ou igual a 140mmHg e pressão arterial diastólica menor que 90mmHg. Em indivíduos jovens, presume-se que a patogênese da HSI está relacionada a circulação hipercinética, transição hemodinâmica, desregulação do sistema nervoso autônomo, enrijecimento da parede arterial ou até mesmo da forma de aferição da pressão arterial . O termo Espúria ou Pseudo Hipertensão é usualmente aplicado para a população que apresenta pressão arterial braquial elevada, enquanto a pressão pressão aórtica central é normal. Inicialmente descrita no estudo de O’Rourke et al., onde os pesquisadores demonstram que nesses pacientes, a pressão sistólica na aorta era normal, mas a amplificação da pressão central para periférica era aumentada.
Ainda existe na literatura muita controvérsia sobre a significância clínica e prognóstica do aumento da pressão arterial sistólica isoladamente detectado nas primeiras décadas de vida, sendo que o manejo de indivíduos jovens com HSI implicam em um grande desafio na terapêutica. Esse estudo tem como objetivo apresentar um caso clínico de hipertensão sistólica isolada do jovem, sua avaliação clínica e diagnóstica, e sua evolução após 10 anos de acompanhamento.
Métodos
Trata- se de um relato de caso, de um jovem , masculino, 20 anos, que foi avaliado clinicamente, e realizado MAPA de 24 horas, avaliação da pressão central isodada e de 24 horas, medida da velocidade de onda de pulso, eletrocardiograma, ecocardiograma bidimensional e tridimensional, e exames laboratoriais.
Para diagnóstico da pressão arterial periférica e central, e aferição da velocidade de onda de pulso, de forma não invasiva, foi utilizado o método de Monitorização Ambulatorial da Pressão Arterial (MAPA), com aparelho Mobil-O-Graph, validado para uso clínico na população geral. A MAPA com o equipamento Mobil-O-Graph, consiste em um método oscilométrico com manguito aplicado no braço, que permite o registro indireto e intermitente da pressão arterial periférica e central durante 24 horas, ou mais, enquanto o indivíduo pratica suas atividades habituais na vigília e durante o sono .
Estes exames foram repetidos após 1 ano, 5 anos e 10 anos após a avaliação inicial.
Resultados
Paciente masculino, 20 anos, branco, estudante de Medicina, natural e procedente de Maringá. Compareceu a consulta com o Cardiologista com queixa principal de elevação da pressão arterial. Negou outros sintomas. Não fazia uso de medicações contínuas, negava tabagismo e etilismo. Praticante de atividade física regular (mínimo 30 minutos de atividade física intensa diariamente).
Ao exame físico apresentou altura de 1,78 metros (m), peso de 74 quilogramas (Kg), com Índice de Massa Corporal (IMC) de 23,4 Kg/m2. Realizado duas aferições da pressão arterial, com intervalo de um minuto entre as duas, respeitando as recomendações da Diretriz Brasileira de Hipertensão 2020 para medição, com diagnóstico de Hipertensão Sistólica Isolada (média de pressão arterial sistólica de 148 mmHg e pressão arterial diastólica de 74mmHg).
Posteriormente, no seguimento clínico foi realizado MAPA de 24 horas, que evidenciou critérios para hipertensão quando analisadas as cargas pressóricas sistólicas elevadas nos periodos, total, vigília e sono, e cargas diastólicas normais nesses períodos, com média de 144 por 72 mmHg.
Para melhor elucidação diagnóstica e proposta terapêutica foi realizado, com o aparelho Mobil-O-Graph, medidas isoladas da Pressão Arterial Central e Velocidade de Onda de Pulso, cujo os valores foram respectivamente 110 por 73 mmHg e 5,2m/s, ou seja, valores dentro dos limites normais de referência na classificação de Hipertensão Arterial e de acordo com a idade do paciente.
As médias da pressão arterial sistólica e diastólica centrais de 24 horas, realizadas com o aparelho Mobil-O-Graph , foram respectivamente de 114mmHg e 76 mmHg, apresentaram-se dentro do limite de normalidade.
Ecocardiograma bidimensional e tridimensional sem alterações, e exames laboratoriais normais.
Diante dos resultados, trata- se de um caso de espúria hipertensiva do jovem, sem a necessidade de tratamento farmacológico portanto, e orientamos o acompanhamento deste paciente.
Retorna 1 ano após, sendo realizado MAPA central de 24 horas : MAPA 24 horas- medidas periféricas- média: 148/74 mmHg; MAPA central 24 h - média: 112/73 mmHg, VOP: 5,1 m/s. Demais exames normais. Orientações sobre medidas de estilo de vida, sem medicação.
Retorno em 5 anos após: sendo realizado MAPA central de 24 horas : MAPA 24 horas- medidas periféricas- média: 142/70 mmHg; MAPA central 24 h - média: 110/68 mmHg, VOP: 5,3 m/s. Demais exames normais. Orientações sobre medidas de estilo de vida, sem medicação.
Retorno em 10 anos sendo realizado MAPA central de 24 horas : MAPA 24 horas- medidas periféricas- média: 134/72 mmHg; MAPA central 24 h - média: 110/68 mmHg, VOP: 5,4 m/s. Demais exames normais. Orientações sobre medidas de estilo de vida, sem medicação.
Conclusões
Relatamos um caso de um indivíduo jovem, com medidas isoladas e em MAPA de 24 horas, com elevação da pressão sistólica, que realizou medidas isoladas e de 24 horas da pressão aórtica central que demonstrou níveis normais, e seu acompanhamento clínico após 1, 5 e 10 anos, mantendo o mesmo comportamento pressórico. Diante da ausência de lesão de órgão alvo, considerando a Espúria hipertensiva uma variante benigna da Hipertensão Sistólica Isolada, optamos por não iniciar tratamento farmacológico, mantendo seguimento clínico rigoroso e orientações sobre estilo de vida.
Área
Hipertensão
Categoria
Relato de caso
Autores
Daniel Costa Gonçalves do Vale, Gregório Rossetto Machado, Vitória Martins Prizão, Igor Aguiar Souza, Jaqueline Lyrio Bermudes Okawa, Rogerio Toshiro Passos Okawa