19º Congresso do Departamento de Pressão Arterial da SBC

Dados do Trabalho


Título

Acromegalia e Hipertensão Arterial: Casualidade ou Causalidade? Insights a partir de Relato de Caso.

Introdução e/ou Fundamento

A acromegalia é uma doença endócrina rara causada por adenoma hipofisário secretor de Hormônio do Crescimento (GH), cursando com aumento dos níveis plasmáticos de GH e, consequentemente, do Fator de Crescimento Semelhante à Insulina-1 (IGF-1). Ambos os hormônios exercem importantes atividades regulatórias no sistema cardiovascular (CV) que é o principal responsável pelas complicações clínicas da síndrome. O relato de caso a seguir expõe diversas dessas complicações.

Métodos

Relatamos caso de paciente do sexo feminino, 47 anos, branca, tabagista, sem outras comorbidades, que procurou atendimento por cansaço progressivo, associado à dispneia aos esforços e edema de membros inferiores.

Resultados

O ecocardiograma transtorácico confirmou dupla lesão mitral grave, com predomínio de estenose, tratada cirurgicamente com implante de prótese mitral biológica. Cinco anos após, a paciente desenvolveu hipertensão arterial (HA) estágio 1, tratada com Hidroclorotiazida. Concomitantemente relatou cefaleia, perda visual bitemporal, separação dos dentes, aumento de extremidades (com necessidade de aumentar numeração dos sapatos) e língua. Com suspeita clínica de acromegalia, foi submetida a investigação que evidenciou elevação de níveis plasmáticos de GH e IGF1 e lesão expansiva intrasselar identificada por ressonância magnética nuclear. Iniciou-se tratamento com Bromocriptina. Nesse período a paciente interrompeu o uso da medicação anti-hipertensiva, mantendo controle adequado da pressão arterial. No entanto, três anos depois, foi constatado novo aumento dos níveis de IGF-1 para 785mcg/L (VR <225mcg/L) e GH para 36,8mcg/L (VR <8mcg/L) e a Bromocriptina foi substituida por Octreotide. Nesse momento foi necessário reinstituir e incrementar progressivamente o tratamento para a HA, pois, apesar de redução dos níveis de IGF-1 para 215mcg/L e GH para 0,94mcg/L, desta vez não houve melhora dos níveis pressóricos. Ecocardiograma de controle revelou hipertrofia ventricular esquerda excêntrica, aumento biatrial importante e ectasia da raiz aórtica. Após 2 anos de estabilidade, paciente passou a apresentar síncopes, com Holter 24h evidenciando flutter atrial de baixa resposta e 118 pausas >2,5 segundos, sendo indicado e realizado implante de marcapasso definitivo.

Conclusões

A doença CV é a comorbidade mais frequente e a principal causa de morte relacionada a acromegalia. O caso apresentado reúne e ilustra as principais manifestações CV da acromegalia: doença valvar; hipertrofia ventricular esquerda; bradiarritmias e HA, muito embora não tenha sido possível afastar doença reumática como etiologia da dupla lesão mitral. A prevalência de HA varia de 13 a 60% e contribui significativamente com o excesso de morbimortalidade observado. A alta prevalência de HA na população geral faz com que seja árduo discernir na prática clínica em que medida a HA é secundária a acromegalia, essencial ou mista. O controle pressórico obtido concomitantemente com a redução dos níveis plasmáticos de GH e IGF-1 indica uma associação direta destes hormônios com a HA em função do aumento da resistência insulínica, da reabsorção renal de sódio e da atividade simpática. Por outro lado, a persistência da HA após o controle hormonal obtido com o Octreotide sugere que nessa fase mais tardia, o remodelamento arteriolar tenha levado a instalação de HA primária.

Área

Hipertensão

Autores

Isabela Ferraz Grandino, Isabela Caldana Scaramel, Marcio Sousa Gonçalves, Fernanda Consolim Colombo, Antonio Gabriele Laurinavicius