19º Congresso do Departamento de Pressão Arterial da SBC

Dados do Trabalho


Título

DESAFIOS NO DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO DA HIPERTENSÃO RENOVASCULAR EM POPULAÇÃO VULNERABILIZADA: UM RELATO DE CASO

Introdução e/ou Fundamento

A Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS) é uma condição de alta prevalência, sendo responsável por afetar em média 30% da população adulta, o que corresponde a cerca de 1,2 bilhão de indivíduos em todo o mundo. No Brasil, estudos populacionais revelam uma preocupante taxa de controle inadequado da Pressão Arterial (PA), com apenas 19,6% dos pacientes alcançando as metas terapêuticas. A HAS pode ser classificada em dois principais subtipos: primária, abrangendo cerca de 95% dos casos e caracterizando-se pela falta de uma etiologia definida; e secundária, cerca de 5% dos casos, com etiologia conhecida. A hipertensão arterial resistente é definida quando a PA está acima das medidas terapêuticas esperadas com o uso de três ou mais anti-hipertensivos, com diferentes mecanismos de ação e em doses máximas preconizadas, sendo um deles, preferencialmente, medicamento diurético tiazídico. Este resumo relata o caso de um paciente do sexo masculino, 37 anos, etilista crônico, previamente hígido, sem comorbidades conhecidas e vivendo em situação de rua, admtido, em março de 2023, no abrigo do Centro de Referência Especializado de Assistência Social (Creas) em Mossoró-RN, tendo apresentado elevação dos valores de pressão arterial sistólica (PAS) e diastólica (PAD) durante sua avaliação pela equipe de saúde que prestava assistência ao local. A hipótese a ser testada foi a de HAS secundária resistente, possivelmente relacionada à estenose de artéria renal (EAR) de etiologia aterosclerótica, tendo em vista o consumo de álcool como fator de risco para aterosclerose. Este caso exemplifica os desafios no diagnóstico e tratamento da HAS secundária, destacando a importância da abordagem interdisciplinar na gestão de pacientes vulnerabilizados e com fatores de risco para a doença.

Métodos

O paciente foi submetido a uma extensa avaliação que incluiu anamnese, exame físico e monitorização residencial da pressão arterial (MRPA). Os resultados da MRPA orientaram o diagnóstico de HAS, e a conduta inicial incluiu a introdução de Losartana, exercícios físicos e controle dietético. A terapêutica foi ajustada ao longo do tempo, com a inclusão de Hidroclorotiazida e Anlodipino, além de Fluoxetina, devido a um quadro ansioso de base agravado em virtude da dificuldade do controle da PA. O difícil controle pressórico, apesar das doses otimizadas das principais classes medicamentosas, levou à suspeita de HAS secundária, conduzindo a solicitação de exames complementares para o início de investigação e encaminhamento para avaliação especializada pela cardiologia. A avaliação posterior indicou EAR direita, desencadeando a introdução de Espironolactona e Hidralazina.

Resultados

Os exames laboratoriais revelaram dislipidemia, o ECG demonstrou ritmo sinusal com bloqueio de ramo direito e a ultrassonografia renal e o doppler de artérias renais confirmaram a estenose de artéria renal direita. Apesar das múltiplas medicações em uso, o controle pressórico não foi alcançado até a introdução da hidralazina. O paciente, atualmente, mantém sua pressão arterial dentro das metas terapêuticas, podendo ser classificado como uma hipertensão resistente controlada. Ademais, o paciente espera a realização da arteriografia de artérias renais, já agendada, para confirmação da etiologia aterosclerótica e, possivelmente, correção cirúrgica da EAR.

Conclusões

Este caso clínico destaca a complexidade do diagnóstico e manejo da HAS secundária resistente, especialmente em pacientes em situação de rua e com fatores de risco associados. A hipótese diagnóstica em questão, reforça a importância da avaliação cardiovascular aprofundada. A gestão interdisciplinar e a busca por causas subjacentes são fundamentais para o controle eficaz da HAS na população vulnerabilizada. Este caso ilustra como a atenção multidisciplinar pode levar a resultados clínicos satisfatórios.

Área

Hipertensão

Autores

Laiany Oliveira de Jesus, Rebecca Maria Nogueira de Sousa, Ariadne Gomes Farias, Paula Bezerra Novaes, Marcelo Pereira de Lira , Davi Wesley Lopes de Oliveira , Julianne dos Santos Barbosa, Rejane Helena Pereira Lins, Pedro Diógenes Peixoto de Medeiros