Dados do Trabalho
Título
Avaliação da Rigidez Arterial e da Pressão Central em Indivíduos Pós Covid
Introdução e/ou Fundamento
A COVID 19 (Coronavirus disease 2019), doença causada pelo SARS COV – 2 (severe acute respiratory syndrome coronavirus 2), levou a uma pandemia global, com mais de 36 milhões de casos , e 695 mil morte nos Brasil, em dados de janeiro de 2023. O SARS COV – 2 um vírus RNA de fita simples, atinge principalmente o sistema respiratório na fase inicial da resposta inflamatória, com evidências demonstrando também um expressivo dano ao sistema cardiovascular humano com lesões cardíacas, arritimias e dano vascular. Um dos comprometimentos do sistema vascular encontrado na COVID 19 é a rigidez arterial, dano à camada média vascular, mediada por estresse oxidativo, inflamação, liberação de citocinas, perda de elastina, redução de óxido nítrico e acumulo de colágeno. Sendo assim, estudos sobre os efeitos da infecção pelo Sars-Cov-2 na camada média e sua relação com rigidez arterial aumentada se fazem necessários para o maior entendimento das sequelas da COVID-19 no sistema vascular, de forma a melhorar o manejo desses pacientes. Além disso, proporcionar conhecimento a classe médica em relação ao exame de velocidade de onda de pulso, para que a estratificação de risco cardiovascular seja mais precoce e precisa.
Portanto o objetivo deste estudo foi avaliar a velocidade de onda de pulso e a pressão aórtica central, durante os primeiros 6 meses após a infecção pelo Covid – 19, comparando com parâmetros prévios à infecção, e correlacionar com a gravidade do quadro agudo, e marcadores de gravidade tais como troponina e BNP, com a hipótese que haveria uma piora desta variável, e uma provável melhora no decorrer dos meses.
Métodos
Foram selecionados 114 pacientes maiores de 18 anos, de ambos os gêneros, em acompanhamento clínico na clinica Avancor , na cidade de Maringá, estado do Paraná, com exame de avaliação da rigidez arterial , velocidade de onda de pulso, e pressão central previamente à infecção pelo SARS- COV -2 . Dados demográficos, gravidade da infeção aguda , troponina, BNP, foram avaliados.
O presente estudo foi aprovado pelo Comite de Ética envolvendo Seres Humanos- COPEP, da Universidade Estadual de Maringá, Número do Parecer: 5.779.058.
Procedimentos:
Dados prévios à infecção por SARS- COV 2 foram coletados, assim como dados após 30 dias, 3 meses e 6 meses após a testagem positiva para SARS- COV 2.
Foram avaliados com história clínica e exame físico , além do uso de medicações contínuas.
Realizada a medida da velocidade de onda de pulso , com aparelho Dyna MAPA ( Cardios- São Paulo), método oscilométrico, com braçadeira adequada no braço direito, com 3 medidas com intervalos de 1 minuto entre as medições. As variáveis: velocidade de onda de pulso ( VOP), AIX @HR75,pressão sistólica braquial e central, pressão diastólica braquial e central, foram analisadas. Os valores de referência e normalidade adotados foram os publicados com dados brasileiros e com o mesmo equipamento.
Foram descritas as características quantitativas de todos os pacientes com uso de medidas resumo (média, desvio padrão, mediana, mínimo e máximo) e as características qualitativas foram descritas com uso de frequências absolutas e relativas .
As alterações nos parâmetros de pressão foram descritos segundo gravidade do Covid, alteração de troponina e BNP a cada momento de avaliação e comparadas isoladamente segundo cada fator e momento com uso de equações de estimação generalizadas (EEG) com distribuição binomial e função de ligação logito, assumindo matriz de correlações permutáveis entre os momentos de avaliação , os mesmos modelos foram realizados para avaliar conjuntamente a relação dos fatores e momentos de avaliação nas alterações dos parâmetros de pressão.
As análises foram realizadas com uso do software IBM-SPSS for Windows versão 22.0 e tabulados com uso do software Microsoft-Excel 2013 e os testes foram realizados com nível de significância de 5%.
Resultados
As alterações de AiX, PASP e PADP apresentaram comportamentos estatisticamente diferentes dos pacientes conforme a gravidade do Covid ao longo dos momentos de avaliação (p Interação < 0,05), já as alterações no VOP, PASC e PADC apresentaram diferenças segundo gravidade do Covid independente do momento de avaliação (p Gravidade < 0,05) e também diferiram ao longo dos momentos de avaliação independente da gravidade do Covid (p Momento < 0,05).
As alterações nos parâmetros de pressão diferiram estatisticamente ao longo dos momentos de avaliação independente da alteração da troponina (p Momento < 0,05) e também apresentaram diferenças estatisticamente significativas segundo alteração da troponina independente do momento de avaliação (p Troponina < 0,05), exceto PASC e PADC, que não diferiram entre pacientes com e sem alteração de troponina (p Troponina = 0,215 e p Troponina = 0,220 respectivamente).
Pacientes com gravidade moderada do Covid apresentaram chance de alteração no VOP 5 vezes a chance de pacientes com gravidade leve do Covid (p = 0,019) e houve aumento da chance de alteração no VOP conforme os momentos de avaliação de 2,85, 3,02 e 2,40 vezes respectivamente em 30 dias, 3 meses e 6 meses em relação ao paciente no pré (p < 0,001), independente das demais características avaliadas. A alteração na troponina e no BNP não influenciaram estatisticamente na alteração do VOP quando avaliada conjuntamente da gravidade do Covid (p = 0,214 e p = 0,139 respectivamente).
Pacientes com gravidade do Covid moderada e grave apresentaram chance de alteração na PASP altíssimas em relação ao paciente com Covid leve (OR = 55,42 e OR = 126,47 respectivamente) (p < 0,001), a chance de alteração na PASP foi 90% menor em pacientes com alteração do BNP (p = 0,018) e houve aumento na chance de alteração da PASP nos demais momentos de avaliação de 7,61, 3,23 e 4,98 vezes em relação ao pré (p < 0,05).
Conclusões
Concluimos que o Coronavírus contribui para o aumento da rigidez arterial e da pressão central através do processo inflamatório intenso e generalizado, que estimula as citocinas e demais vias , causando alterações na camada média e endotélio vascular. Sendo assim, esse processo infeccioso leva ao aumento da rigidez arterial e da pressão central.
Área
Hipertensão
Categoria
Estudo observacional
Autores
Vitória Martins Prizão, Michel Stasiak Bahniuk, Pedro Henrique Siqueira Costa, Giovana Silvestre Ramiro, Bruno Jun Komagome, Daniel Costa Gonçalves do Vale, Luisa de Lamare dos Santos Paula, Jaqueline Lyrio Bermudes Okawa, Rogério Toshiro Passos Okawa