19º Congresso do Departamento de Pressão Arterial da SBC

Dados do Trabalho


Título

Crise tireotóxica como etiologia rara de hipertensão arterial pulmonar

Introdução e/ou Fundamento

A crise tireotóxica é uma emergência endócrina que permanece sendo um desafio diagnóstico e terapêutico. O mecanismo inclui uma resposta aumentada aos hormônios tireoidianos associada a uma disponibilidade aumentada ou súbita dos mesmos. O diagnóstico é baseado em critérios clínicos e o tratamento deve ser iniciado precocemente para redução da mortalidade. As manifestações clínicas incluem febre alta e taquicardia desproporcional à doença subjacente. Outras manifestações bem descritas incluem palpitações, dispneia aos esforços, hipertensão arterial, isquemia miocárdica, fibrilação atrial. Estudos recentes têm sugerido uma associação entre hipertensão arterial pulmonar (HAP) e tireoidopatias, sendo seus mecanismos ainda não bem estabelecidos.

Métodos

Trata-se de um relato de caso, observacional, descritivo.

Resultados

Paciente do sexo feminino, 48 anos, admitida devido taquicardia, edema de membros inferiores e dispneia aos mínimos esforços. A paciente desconhecia comorbidades, porém referiu que três meses antes do ocorrido passou a apresentar palpitações, ansiedade, insônia e proptose ocular. Ao exame físico inicial apresentava-se com frequência cardíaca de 124 bpm, pressão arterial de 124 x 86 mmHg, afebril, saturando 92% em ar ambiente, com edema de membros inferiores 3+/4+, refluxo hepatojugular, turgência jugular e crepitações basais na ausculta pulmonar. Evidenciado em exames iniciais TSH de 0,01µUI/L e T4 livre de 7,77 ng/dL, além de ecocardiograma com fração de ejeção ventricular esquerda (FEVE) de 79% e insuficiência tricúspide discreta. Preenchidos os critérios diagnósticos (escore de Burch) para tireoxoticose, associado à provável descompensação de insuficiência cardíaca de alto débito. O manejo inicial foi realizado com propiltouracil, propranolol, hidrocortisona, furosemida endovenosa e suporte em leito de terapia intensiva. No terceiro dia de internação, a paciente apresentou níveis pressóricos elevados de forma sustentada, sendo necessário uso de vasodilatador endovenoso em associação com anti-hipertensivos via oral para controle. Após estabilização do quadro, a paciente foi encaminhada para enfermaria e iniciou desmame gradual de corticoide e ajustes de doses de tionamida e betabloqueador. Na enfermaria foi solicitado novo ecocardiograma, que evidenciou FEVE de 50%, disfunção diastólica, insuficiência tricúspide importante, sinais de hipertensão pulmonar, aumento de câmaras direitas e derrame pericárdico discreto, sendo interrogada a hipótese de hipertensão arterial pulmonar secundária a mecanismo auto-imune da tireoidopatia. Durante internação, realizado medidas para crise hipertensiva pulmonar aguda com diureticoterapia e nitroprussiato endovenoso para manejo de congestão pulmonar associados a suporte de oxigênio via cateter nasal, sem necessidade de uso de inotrópicos. A paciente recebeu alta após melhora do quadro em uso de enalapril, espironolactona, betabloqueador e tapazol, sendo solicitado novo ecocardiograma para seguimento ambulatorial, com melhora da fração de ejeção e sem sinais de hipertensão pulmonar em novo exame.

Conclusões

A hipertensão arterial pulmonar possui diversas causas, sendo a tireotoxicose considerada uma etiologia rara, que possui elevado grau de mortalidade se não reconhecida precocemente. Os distúrbios cardíacos da crise tireotóxica podem afetar os pulmões de duas maneiras: insuficiência cardíaca de alto débito ou dilatação da artéria pulmonar, possivelmente acompanhada por HAP. O tratamento consiste em vários medicamentos, cada um com um mecanismo de ação diferente, incluindo betabloqueador, tionamida, solução de iodo e glicocorticoide. No caso dos pacientes com HAP associada a tireoidopatia, com tratamento adequado do hipertireoidismo, após repetido o ecocardiograma, podem apresentar melhora dos sinais de hipertensão pulmonar após o tratamento da causa base. O relato deste caso mostra-se interessante devido o diagnóstico rápido da HAP e a comprovação de sua instalação da maneira aguda já que a paciente possuía ecocardiograma recente sem sinais de HAP e, com o tratamento adequado da causa base, um desfecho favorável foi obtido.

Área

Clínica Médica

Autores

Guilherme Martins Tahan, Thainá Perassolo Martínez, Hélder Camacho, Luiza Cavalero Nosse, Patrícia Munhoz Margonari, Patrícia Silva De Marco